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domingo, 30 de maio de 2010

... Quando o Dr. Jorge disse que eu teria um menino eu não coube em mim de tanta felicidade, saí falando pra todo mundo. As pessoas diziam que eu ia ter um menino porque minha barriga estava redonda e não-sei-mais-o-que. Eu bordei lençolzinho, almofada, lencinhos esperando o meu Kalil, e como eu o esperei, eu ficava imaginando como ele seria quando crescesse.
Ele seria moreninho, teria cachinhos igual ao Antônio, seria peralta,claro! usaria cuecas e chinelos havaianas.
Enfim no dia 29/05 às 21:00 hs a bolsa d'´´agua estourou e eu fui pro hospital tranquila e sorridente, e o Antônio preocupado, nervoso.
Á meia noite as dores começaram, eu estava sozinha no Centro Cirúrgico. Ás três horas da manhã eu já não aguentava mais, então a enfermeira fez o toque e constatou que o meu bebê nasceria dentro de meia hora. Que felicidade, fui pra mesa de parto quase dançando!!!
Depois de três contrações bem fortes eu escutei um chorinho e ví um bebê todo roxinho. E pra minha surpresa não era o Kalil, mas um presentinho lindo que Deus tava me dando naquele momento.
Eu digo presente porque eu não esperava jamais que poderia acontecer de o médico errar na ultrassonografia, e como eu esperei o Kalil o tempo todo não havia mais como mudar tudo isso.
A Júlia nasceu linda, perfeita, saudável e eu me apaixonei por ela desde o primeiro momento. Parece que ela entendia minha surpresa e olhava pra mim com os olhinhos mais cativantes que alguém pode ter.
Mas faltava alguma coisa.
Onde tava o Kalil?
Eu não ia levar ele pra casa?
Eu nem ia ver a carinha dele?
É dificil pra mim pensar que o Kalil nem existiu.Que durante quatro meses eu conversei com um bebê, cantei musiquinha pra ele se acalmar, chamava ele pelo nome, e ele não nasceu.
O Antônio não entende o que eu sinto. Nem poderia, os sentimentos abalados foram os meus, e as pessoas, acho que tentando me animar ainda ficavam fazendo piadinhas.
O Kalil morreu, e eu ganhei a Júlia no lugar.
Eu sei que ela não vai se importar se eu pensar assim.Ela sabe que a culpa não é minha. Que eu gostaria de ter curtido a gravidez dela, mas infelizmente eu não sabia que tinha dentro de mim a princesa mais linda desse mundo.
Eu já disse a Júlia que vou bordar tudo pra ela de novo. Ela vai ter um enxoval bonitinho, bordado especialmente pra ela, com direito a almofada com nome e tudo mais.
A Júlia está cada dia mais linda, mais esperta, mais tudo. Ela encanta qualquer um.
O Senhor não poderia ter me dado um filho mais perfeito que ela.
Agora eu vou parar de escrever, porque a pessoa mais importante desse mundo tá me chamando pra um particular.
20 de junho de 1999

Eu guardei este desabafo por quase 11 anos, postei aqui porque talvez um dia eu perca o papel.
Eu cumpri minha promessa com a Júlia de bordar um enxoval pra ela, Logo parei de pensar no Kalil.
Hoje ela faz onze anos.
Tá uma mocinha muito inteligente, bonita e obediente. Agradeço a Deus por ter me dado esse presentinho que tá virando um presentão!!!

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